quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Política, Religião e Irrigação



Política, Religião e Irrigação


A luta pela terra e pela água sempre esteve próxima da política e da religião, mesmo quando não havia separação entre política e religião.

No Egito Antigo, um bando de biscateiros marginais, foras-da-lei, conhecidos como 'apiru (Hebreus), um povo "muito misturado", brigou com o Rei (o Faraó) e partiu em busca de uma terra prometida onde corriam rios de leite e mel.

Os Deuses do Faraó formavam também uma família divina, pois se o Faraó era o próprio Deus na terra, então, o filho do Faraó, o pai, a mãe, etc. também tinham que ser Deuses (menores, é claro). O Faraó era Deus de verdade, pois comandava a distribuição das terras e, principalmente, das águas.

O povo 'apiru era formado pelos mais pobres dos pastores camponeses e migrantes que viviam longe das férteis margens do Nilo (como se vê na foto acima), onde viviam os ricos, e onde o Deus Geb (Terra) era sempre fecundado pela Deusa Nut (Céu).

Os 'apiru, por sua vez, dependiam inteiramente do bom funcionamento da burocracia egípicia, incluindo astrônomos, matemáticos, topógrafos e engenheiros construtores, além do pessoal que supervisionava e fazia manutenção das redes de canais de irrigação. Se o Faraó acordava de bronca e mandava o funcionário fechar a comporta de tal canal, lá se ia toda uma população de várias aldeiazinhas de pastores a migrar por causa da fome e procurar biscates nas cidades. O chefe do Estado era divino pois tinha poder de vida ou morte tanto sobre a natureza como sobre as pessoas.

Os 'apiru lutaram por uma terra onde a água vinha lá do Céu direto de Deus para cada um, sem intermediários, uma terra em que chovesse tanto que a vegetação florescesse e produzisse árvores altas em cujos velhos troncos ocos pudessem abrigar-se muitas colméias de abelhas melíferas. Uma terra que chovesse tanto que os pastos verdejassem por muito tempo fazendo as cabras e ovelhas procriarem e darem leite de sobra. Uma terra onde corressem rios de leite e mel.

Na caminhada da luta até essa terra prometida, doce e chuvosa descobriram que não precisavam mais de Rei e inventaram um governo composto de uma assembléia de representantes de suas diversas tribos. Como inventaram um governo sem Reis, descobriram que Deus não precisava ter família, nem mãe, nem pai, nem mulher, nem uma corte de Deuses menores, nem mesmo filho.

Esse Deus que manda a chuva direto sobre todos, era único e sozinho. Diferente de outros "Deuses da chuva" da época, esse Deus único não tinha templo, para ele não adiantava rezar para chover. Além disso, esse Deus único e sozinho podia mandar dois tipos básicos de chuva:

(O hebraico bíblico registrou duas palavras para as chuvas mandadas por esse Deus)

era a chuva mansa que Deus manda para renovar a vida e


era a chuva-dilúvio que Deus manda para castigar a humanidade.

Estranhamente, para esse Deus "manda-chuva" único e sozinho, era a obediência do povo à Lei que constituiu a assembléia do governo do povo que contava para a benção da chuva boa ou para o castigo da chuva má.

Foram esses pastores-camponeses migrantes foras-da-lei 'apiru que inventaram e descobriram todas essas maravilhas que muito tempo depois ainda significam novidade em nossa civilização.

Existiram entre eles, é verdade, sérias divergências culinárias:

4A turba que estava no meio deles foi tomada de cobiça. Os próprios filhos de Israel se puseram a chorar e a dizer: “Quem nos dará carne para comer? 5Lembramo-nos do peixe que comíamos por nada no Egito, dos pepinos, dos melões, das verduras, das cebolas e dos alhos! 6Agora estamos definhando, privados de tudo; nossos olhos nada vêem senão este maná!” 18[...]“Éramos felizes no Egito!” 20[...]“Por que, pois, saímos do Egito?”

(A Bíblia de Jerusalém - Livro dos Números 11, 4-6; 18; 20)

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